segunda-feira, 3 de setembro de 2012

“Não importa

se você me liga às duas da manhã ou se conversamos a merda do dia inteiro por indiretas escrotas. Às sete da noite eu sempre pulo do penhasco. Às sete da noite a vontade de deitar com nossas meias encostadas uma a outra e os olhos fixados no teto começando a estrelar é sempre maior, às sete da noite a tristeza é sempre maior. “Qual é o ônibus que eu tenho de pegar para ir te ver agora?”.
Eu não sei qual ônibus pega para bater na porta da sua casa, mas eu o faria se você quisesse. Como a proposta de passar a noite na rua, não importa em qual, desde que estejamos juntos. Como a proposta de ser sua. Como a proposta de segurar o seu abismo no colo. Como a proposta da meia noite e meia vomitada com um “por quê você não fica comigo?”. Insanas. Propostas. Propostas insanas, insanas propostas. Só propostas.
Só “se você quisesse…”.
Às sete da noite de todos os dias eu sempre sento, ouço The Blower’s Daughter e sussurro (para deus ou para o diabo): “tá foda”, com tranquilidade e aceitação das lágrimas. Porque de insano já basta sua voz, sua gargalhada horrorosa. Porque de insano já basta o meu cérebro quando a chamada desliga.
O motor quase pára. Dá para ouvir os zunzidos de lucidez lutando contra a alucinação completa, mesmo sem Maria. O motor da porra do meu cérebro quase entra em pane depois que desligo o telefone. “Que tanto de merda esse menino me falou. Que tanto de merda.” E me pego anotando em um papelzinho absorvido de toda a minha humildade as suas frases ditas na noite anterior no dia posterior. Já devem existir alguns quatro pedaços de papel rasgados e amassados na minha carteira. Todos eles falando sobre você.
Faz diferente comigo. Até se for parar dar um fora, até se for para gostar de mim. Faz diferente. Eu já te pedi. Você consegue. Não é possível que os seus neurônios foram feitos só e somente para serem usados com pornô. Você consegue. Faz diferente.
Eu não sei mais como terminar esse texto, ou que bosta for essa.
São sete da noite e eu queria sua voz no meu ouvido porque é excitante, sujo. São sete da noite e eu queria um beijo de despedida seu para com a minha sanidade.
A manda embora, quebra as portas, os copos, os pratos, faz moradia. Ninguém precisa de sanidade quando se tem você. Ninguém precisa de porra nenhuma quando se tem você.”

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